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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fashion Rio Verão 2011/12 e Frida Kahlo

Hoje faço uma pausa no assunto jeans para escrever sobre uma das maiores pintoras do século XX e inspiração de um dos desfiles do Fashion Rio Verão 2011/12.

"Pensando en la Muerte" Frida Kahlo - 1943
O desfile em questão foi o da Melk Z-da e a artista homenageada foi Frida Kahlo. Acho que, para criar roupas agradáveis ao olhar, a obra de Kahlo teve que passar por uma lavagem e tanto, com direito a Vanish Poder O2 nas manchas mais resistentes. Isso porque seus quadros nada têm de belo. Representam dores quase que viscerais sofridas pela artista ao longo de sua vida. O auto-retrato acima foi realizado quando sua saúde estava bastante debilitada e a artista passava muito tempo pensando na morte. A relação entre a morte (caveira) e a vida (natureza) estava sempre presente em suas obras. Considerada surrealista por muitos, a própria Frida não se definia como tal. Dizia que não pintava sonhos, e sim sua própria realidade. Uma realidade repleta de imagens chocantes: corpos dilascerados, às vezes amenizados por ilustrações de natureza morta, igualmente dilascerada. Não sabemos se a artista quer dar sofrimento à natureza ou adicionar morte à sua realidade sofrida, que antes estivesse morta do que viva. Por várias vezes tenta o suicídio e a morte é finalmente trazida por uma pneumonia, aos seus 47 anos, talvez tarde demais para uma vida marcada por mais tragédias do que alguém deveria poder suportar. 

"Viva la Vida" Frida Kahlo - 1954













Nos looks do desfile consigo enxergar as folhagens por muitas vezes retratadas por Kahlo. Também é possível fazer o paralelo com a natureza morta, especialmente a melancia, muito presente em sua obra.
De resto parece que a obra de Kahlo foi representada em um aspecto um pouco lúdico, abrandada por uma beleza que gostaria de ter existido. Talvez o desfile seja um pouco surrealista: a versão paradisíaca da obra de Frida Kahlo. Dito isso, tenho que reconhecer que é um desafio grande transformar o duro, feio e dóido em leve, belo e agradável.  


HICOULTURE-SE sobre Frida Kahlo

"Las Dos Fridas" Frida Kahlo - 1939

"As Duas Fridas" foi pintado logo após sua separação de Diego Rivera e representa a dor pela qual passou durante essa crise conjugal. Segundo a pintora, a Frida da direita era a admirada e amada por Diogo, representada com o coração inteiro. A da esquerda era a abandonada por ele, com o coração partido. A primeira Frida segura um amuleto com a foto de Diego quando criança, do qual parte uma veia que une os dois corações e é finalmente cortada por uma tesoura cirúrgica. A Frida abandonada tenta parar o fluxo de sangue que vem de Diego, mas não consegue. As mãos dadas demonstram que a única companheira de Frida é ela mesma. 

Nascida em Coyoacán (ao sul da Cidade do México) no início do século XX, Magdalena Carmen Frieda Kahlo foi uma das artistas mais importantes do México. Teve uma vida sofridíssima, marcada por doenças, cirurgias e acidentes. Podemos sentir um pouco de sua tristeza através de seus quadros, que retratam nua e cruamente os percalços sofridos pela artista durante toda a sua vida e sua reação a eles. 

"El Venado Herico" Frida Kahlo - 1946

Quando penso em Frida não consigo deixar de me sentir mal. Ela foi uma daquelas pessoas que nos fazem sentir pequenos. Afinal essa é a única reação possível ao contemplarmos seus quadros, que nada mais são do que a ilustração de sua alma dilacerada, exposta diante de nossos olhos, hora através de seus diversos auto-retratos, hora através de suas não menos numerosas naturezas mortas.
1943 -  Que bonita es la vida cuando nos da sus riquezas

Sua trágica história começa quando contrai poliomielite, aos seis anos de idade. A doença deixa seu pé esquerdo atrofiado e a partir de então começa a usar calças e longas saias mexicanas, uma de suas marcas registradas (que poderia ter sido retratada no desfile da Melk Z-da diga-se de passagem).









Aos 18 anos sofre um grave acidente. Um bonde no qual viajava choca-se com um trem. Um cilindro metálico de um dos veículos perfura as costas de Frida, atravessa sua pélvis e sai por sua vagina. Tal acidente Faz a artista ter de usar vários coletes ortopédicos de materiais diferentes, chegando inclusive a pintar alguns deles.
"La Columna Rota" Frida Kahlo - 1944

Por causa dessa tragédia, fez várias cirurgias e ficou muito tempo de cama, quando começou a pintar. Ao lado de sua cama foi colocado um espelho para que pudesse se ver e ser o seu próprio modelo.

"Hospital Henry Ford" Frida Kahlo - 1932
Assim surgiram os auto-retratos. Esses retratos ajudaram-na a moldar uma ideia do seu próprio eu.  A dor e seus tormentos se transformam nos materiais preferidos de sua pintura. De certa forma, esse lidar com a própria dor é que lhe dá sentindo na vida.

"Raíces" Frida Kahlo - 1943
Não muito tempo depois conhece o artista e futuro marido Diego Riviera. Passa um tempo vivendo com ele nos Estados Unidos, um tanto quanto a contra-gosto. Isso se deve não só ao fato de viver a sombra do marido, mas também porque considerava o Império como um imenso galinheiro imundo e desconfortável, onde os proprietários ricos frequentam festas noite e dia enquanto milhares e milhares de pessoas morrem de fome
É desta época seu quadro "Meu vestido pendurado ali"
"A la Cuelga Mi Vestido" Frida Kahlo - 1933

O vestido vazio poderia significar que Frida nunca esteve de corpo alma nos Estados Unidos, tendo seu coração pertencido sempre ao México.
Como se as tragédias relatadas até aqui não bastassem, viveu um casamento conflituoso com Rivera, marcado por traições de ambos os lados, o que aumentou ainda mais as suas feridas. Frida teve casos que incluíram o revolucionário russo León Trotski. Rivera, por sua vez, a traiu com a própria irmã de Frida, com quem teve seis filhos.
Após essa outra tragédia de sua vida, separa-se dele e vive novos amores com homens e mulheres, mas em 1940 (apenas um ano depois) une-se novamente a Diego e o segundo casamento é tão tempestuoso quanto o primeiro, marcado por brigas violentas.
Uma curiosidade é que ao voltar para o marido, ela constrói uma casa igual a dele do lado da que eles tinham vivido. Essa casa era ligada por uma ponte e eles viviam como marido e mulher mas sem morarem juntos de novo e se encontravam ou na casa dela ou na dele nas madrugadas. Durante o casamento, embora tenha engravidado mais de uma vez, nunca teve filhos, pois o acidente que a perfurou toda, comprometeu seu útero e deixou graves sequelas, que a impossibilitaram de levar uma gestação até o final, tendo tido diversos abortos.
Essa impossibilidade de gerar filhos era um de seus maiores sofrimentos e seria retratada diversas vezes em seus quadros.
Frida ainda passaria por inúmeras operações cirúrgicas, seqüelas de seu grave acidente, acabando inclusive por ter uma perna amputada. Mesmo assim continua a sua militância em defesa dos trabalhadores e da paz mundial, contra o nazismo. Em que pese não ter o reconhecimento que os muralistas Orozco, Siqueiros, Rivera, entre outros tiveram, Frida, mulher, militante e artista, somente mais tarde teve o reconhecimento devido de uma das principais pintoras do século XX. 
Atualmente, alguns de seus quadros estão cotados em até um US$ 1 milhão.

Curiosidade Fashion:

Antes de Melk Z-da, outros já haviam tentado usar a obra de Frida como inspiração fashion. Nos anos 90, revistas femininas nos Estados Unidos (“Elle”, “Vogue”) traduziram Frida Kahlo em suas páginas em estilo mexicano, transformando seus vestidos em roupas atraentes nos corpos de belas modelos, que posaram em casas ensolaradas e supostamente também mexicanas. As revistas retocaram suas veias, o sangue, as cicatrizes, os pelos de sua face e a morte.
A definição que André Breton fez de Frida e de sua arte -“uma fita ao redor de uma bomba”- acaba por fazer quase o mesmo das revistas norte-americanas. Ao enlaçar a bomba com uma fita, a fita distrai a bomba e a bomba acaba por ser um mero elemento para mostrar a fita.
Desta maneira, assim como no desfile de Melk Z-da, Frida Kahlo é retocada de forma a tornar-se palatável e, por que não, consumível. 

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