Artigos sobre cultura em geral combinados com dicas de looks para todos os gêneros, faixas etárias e tipos físicos. Curiosidades e informações sobre o mundo da moda e outras culturas. Agregando valor não só ao seu guarda-roupa!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

ABCoulture: o algodão



“Ali encontramos grandes árvores em estado selvagem cuja fruta é uma lã melhor e mais bonita que a de carneiro. Os indianos utilizam essa lã de árvore para se vestir.”
Heródoto, 445 a.C., referindo-se pela primeira vez ao algodão.

Em 1801, a indústria do vestuário consumia na Europa 78% de lã, 18% de linho e 4% de algodão. Um século mais tarde, as proporções eram de 20%, 6% e 74% respectivamente. Como o algodão virou esse jogo?

O algodão, juntamente com o linho,  é uma fibra natural vegetal cultivada pelo homem desde a Idade do Bronze. Ainda que de lá para cá tenham surgidos outras fibras, entre elas as sintéticas, o algodão é a preferida de muitos por conta de seu conforto, maciez e durabilidade.
Por outro lado, existe uma discussão enorme sobre os danos causados ao meio ambiente pelo seu cultivo. Além da imensa área ocupado para seu plantio. É muito improvável neutralizar todos os danos causados pelo processo industrial, mas hoje tenta-se minimizá-los através do uso de menos inseticidas (muito usados na produção desta fibra em especial) e do cultivo de algodão naturalmente tingido. Alem disso existem iniciativas como o “sistema de algodão adensado”, no Mato Grosso, uma das principais regiões de cultivo da fibra no Brasil. O conceito de “algodão adensado” consiste em diminuir o espaçamento entre as linhas plantadas, aumentando a população de plantas nas fileiras. O sistema pode baixar os custos de 30% a 40% pois reduzem-se os gastos com adubação, maquinário, combustível e mão-de-obra, uma vez que o ciclo da cultura passa a ser de 150 dias, frente aos 210 dias no campo do sistema convencional.

Outras iniciativas que merecem destaque no Brasil são as promovidas pela Embrapa quanto ao melhoramento genético do algodoeiro. Na década de 80, o Centro passou a investir mais no desenvolvimento de variedades anuais de ciclo precoce como estratégia para a convivência com o bicudo-do-algodoeiro, espécie  de besouro proveniente da América Central e responsável por prejuízos gigantescos nas plantações de algodão no nordeste brasileiro no início da década de 80. Na década de 90, a Embrapa Algodão passou a promover pesquisas para o desenvolvimento de cultivares de algodoeiro adaptáveis às condições do Cerrado brasileiro. A obtenção e distribuição da CNPA ITA 90 a partir de 1992 foi o marco para a consolidação da cotonicultura na região. E desde 1997, a Unidade tem lançado de uma a três cultivares por ano para o Cerrado, que tem aproximadamente metade de sua área de algodão plantada com variedades da Embrapa. Para o Nordeste, já foram desenvolvidas 11 cultivares de algodão branco. O sistema também proporciona o plantio de duas safras, pois o algodão é cultivado na sucessão da colheita da soja. 
Algodão naturalmente colorido
A empresa tem apostado agora no algodão colorido como produto diferenciado para a região. Pioneira no desenvolvimento do algodão colorido no país, a Embrapa lançou a primeira cultivar, BRS 200 Marrom, em 2000. A BRS Verde foi colocada no mercado em 2003 e BRS Safira e BRS Rubi, em 2005. Todas foram obtidas por meio de métodos de melhoramento genético convencionais e sua pluma tem tido crescente demanda no mercado. Além de adaptadas às fiações modernas, as cultivares de algodão colorido da Embrapa reduzem os custos de produção para a indústria têxtil e o lançamento de efluentes químicos e tóxicos, por dispensarem o uso de corantes.

 Outra importante tecnologia para a agricultura familiar é a mini-usina de beneficiamento de algodão, que descaroça e enfarda a pluma agregando valor à mercadoria do pequeno produtor. A máquina custa R$ 100 mil, mas o gasto será dividido por toda a comunidade de pequenos agricultores. Mesmo com este custo, o produtor tem o dobro de rentabilidade em relação ao processo tradicional, que é a venda do algodão em forma bruta.
Mini usina de beneficiamento de algodão
 Voltando um pouco no tempo, vamos entender melhor como o algodão se tornou a fibra têxtil mais importante do mundo. Como falei no início do post, o algodão já era usado na Idade do Bronze. Mas porque ganhou notoriedade somente a partir do século XIX? Isso aconteceu porque, apesar da sua produção ser menos complexa que a da seda e do cânhamo, a colheita das fibras de algodão requeria muita mão-de-obra (embora seu custo fosse mínimo) e o descaroçamento era todo manual. Só depois da invenção do descaroçador, pelo americano Eli Whitney, os custos de produção diminuíram e a fibra se popularizou.  

Mais duas invenções iriam mudar o curso da história da fibra: a máquina de fiar, do inglês Arkwright, e o tear mecânico, do também inglês Cartwright (veja abaixo a pintura "Tecelão", de Vincent Van Gogh).

Máquina de Fiar

Tear Mecânico na tela de Vincent Van Gogh "Tecelão"
A partir desses acontecimentos o algodão passa a ocupar posição de destaque no desenvolvimento industrial de diversos países europeus. E não era só por seus motivos exóticos e cores brilhantes. Habituados com os pesados tecidos de lã e ao linho de cor única, os europeus, e mais tarde os países da América,  ficaram encantados com os “indianos” leves e suas cores resistentes ao ar, a luz e as lavagens repetidas. Esse foi o percurso do algodão até adquirir o status que tem hoje: descoberto na Índia e trazido para o ocidente pelas mãos de mercadores árabes, que rapidamente espalharam o produto para a África e, logo depois, para a Europa e América (onde já era cultivado pelos incas, maias e astecas). No início era visto como produto exótico, chegando até a ganhar status igual ao da seda. Mas rapidamente os tecidos da Índia passaram a ser muito requisitados, o que motivava o crescimento da importação e incentivava as indústrias a tentarem copiar os desejados têxteis.

Hoje a China e a Índia são os maiores produtores mundiais de algodão. A China, apesar de produzir toneladas da fibra, ainda necessita importar o produto bruto para suprir suas necessidades. O Egito também é grande produtor da fibra. Aliás, o algodão egípcio é considerado o de melhor qualidade no mundo, por suas fibras longas e extralongas, macias, mas resistentes.
Outra variedade que merece destaque é o algodão sea island, um derivado do algodão egípcio e cultivado nas ilhas do sudeste dos Estados Unidos (cem pequeninas ilhas da costa Atlântica da Carolina do Sul, Geórgia e norte da Flórida) e sob irrigação no sudoeste norte-americano.
As fibras deste tipo de algodão são mais longas que qualquer outro tipo e representam apenas 0/0004% da produção mundial. Dizem que a rainha Vitória só usava lenços de algodão sea island, e que Eduardo VIII também só vestia algodão deste tipo. Atualmente poucas marcas utilizam-se desta matéria-prima, sendo uma delas a Fogal, que a utiliza em sua coleção de camisetas e underwear semelhantes ao toque de cashmere.
A maior parte da colheita mundial de algodão é do tipo "upland", algodão nativo descoberto por colonizadores ingleses na região leste da América do Norte. De fibras mais curtas que as do algodão egípcio, a grande quantidade de sementes e sua forte aderência às fibras dificultaram sua propagação imediata, mas, vencida a dificuldade do descaroçamento, o algodão upland tornou-se o mais difundido no mundo. 

Resumindo,  a fibra de algodão se tornou a mais importante das utilizadas nas indústrias de tecidos por diversas razões: tem baixo custo, não requer preparação mecânica nem tratamento químico custoso, é lavável e mais resistente que a lã. Além disso, de seu caroço é extraído óleo comestível, e a moagem de seus resíduos resulta em farelo usado na alimentação do gado e como fertilizante. 

Curiosidade

As flores do algodão têm vida curtíssima - cerca de 12 horas apenas; os elementos que as compoêm, celulose, água e gordura, é que vão constituir a fibra do algodão. Do ovário da flor surge o fruto em formato de cápsula; Quando a cápsula atinge sua maturidade, cerca de 48 dias após o surgimento, ela se abre mostrando os flocos de algodão que envolvem as sementes. A colheita deve ser imediata. 


terça-feira, 28 de junho de 2011

Como disfarçar a falta de cintura


Separei alguns looks para deixar o corpo retangular, típico de quem tem pouca cintura, com mais curvas. Se esse é o seu caso, é muito importante chamar a atenção para a parte superior do corpo, como o colo, os ombros e os seios.

Preferir: detalhes na altura dos seios e decotes, além de acessórios como colares curtos, brincos, lenços e chapéus; vestidos transpassados.
Evitar: vestidos de corte reto ou muito amplos, que acentuam a falta de curvas.

Os vestidos transpassados criam a ilusão do corpo possuir mais curvas, por isso são altamente indicados para quem não as têm.


Outra dica é marcar a cintura. Pode ser estranho recomendar marcar o que não se tem, mas a idéia aqui é valer-se da ilusão de ótica. Usar um cinto que deixe a cintura mais fina em comparação com a barra da blusa ou do blazer é uma ótima opção. Ou então usar um tubinho estampado com um cinto ou um cinto bem largo com um vestido soltinho.
Chamar a atenção para a parte de cima do corpo é outra idéia interessante. Por isso abuse de colares curtos, brincos compridos, decotes e ombros acentuados.

Para a noite a sugestão é um vestido tomara que caia que seja bastante rodado, criando um contraste com a cintura (cintura marcada e fininha versus barra volumosa)

Douglas Hannant
Um look super charmoso é este da coleção Primavera-Verão 2011, da DKNY. O decote V e o lenço chamam a atenção para o pescoço e para o colo. Além disso o formato acinturado do blazer cria a ilusão de cintura mais fina. Para completar, o charme dos sapatos vermelhos chamando a atenção para os pés. Perfeito.
DKNY
Finalmente, quem sofre com a falta de cintura está terminantemente proibido de usar peças de roupa de corte reto ou balão, que não definem forma alguma. Aliás esse tipo de roupa só cai bem em quem é muito magrinha.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Van Gogh e o Laranja

"Auto-retrato" - Van Gogh (1889)
Dizem que a cor preferida de Van Gogh era o amarelo.  Pegando o gancho no post passado, no qual falei que uma das tendências para o próximo verão era o laranja, resolvi escrever um pouco sobre esse pintor que gostava sim do amarelo, mas que o combinava quase sempre com o laranja, como duas cores complementares. 

Vincent Van Gogh nasceu na Holanda, em 1853, exatamente um ano depois que seu irmão de mesmo nome havia nascido e falecido. Há quem diga que isto o influenciou pro resto da vida. Se hoje seu nome é reconhecido com o de um artista renomado, autor de obras-primas que valem milhões, a história era muito diferente enquanto ainda estava vivo. Sua vida foi repleta de fracassos, um atrás do outro. Nunca conseguiu se sustentar sem a ajuda do irmão mais novo Theo, foi rejeitado por amigos e mulheres, oprimido pela família e por empregadores, só conseguiu vender um quadro em vida e suicidou-se por motivos de loucura aos 37 anos. La tristesse durera toujours, ou a tristeza durará para sempre – foram suas últimas palavras enquanto morria nos braços do irmão Theo. Hoje, mais de um século mais tarde, é reconhecido como um gênio insuperável.
Após frustradas tentativas de, ainda na adolescência, ingressar na faculdade de teologia, o artista decidiu se dedicar à arte, começando seus estudos em Bruxelas e, em seguida, em Haia. Não demorou para que os caminhos o levassem a Paris, onde a efervescência cultural atraía artistas do mundo inteiro, e onde iniciou de vez seu período decadência. Apreciador do absinto – ao qual muitos atribuem os problemas psicológicos posteriores -, praticamente falido e vergonhosamente sustentado pelo irmão mais novo, Van Gogh foi uma espécie de deus disfarçado de mendigo. Com um dos traços mais incríveis da história da arte, depositou nas obras – a maioria delas produzidas de um dia para o outro, durante sua estada em hospitais psiquiátricos – toda a felicidade, realização e intensidade que não encontrou em vida.
Protagonista de escândalos, entre eles o relacionamento amoroso com uma prostituta grávida ou ainda o famoso episódio em que cortou a própria orelha após uma violenta discussão com o também pintor Gauguin, ele pediu para ser internado em 1889, aos 36 anos. Apesar disso, viveu neste último ano o período mais fértil de seu trabalho, aperfeiçoando suas técnicas de pinceladas curtas e espiraladas, porém sem poder evitar o turbilhão que o arrastava em direção à esquizofrenia – ou, como ficaria claro décadas mais tarde, o transtorno bipolar de humor que sofria. Em 27 de julho do ano seguinte, dirigiu-se a um campo próximo e disparou um tiro contra o próprio peito, arrastando-se de volta à pensão onde se instalara e morrendo dois dias depois, amparado pelo irmão e fiel companheiro.
"Terraço do Café" - Van Gogh (1888)

"A igreja de Auvers-sur-Oise" - Van Gogh (1890)


terça-feira, 21 de junho de 2011

Tendências para o próximo verão segundo o SPFW

Quais são as tendências para o próximo verão? Separei algumas que apareceram em vários desfiles do SPFW Verão 2012. A primeira é a cor laranja.
Aliás já faz um tempo que a cor aparece nas passarelas (desde o verão passado) e pelo jeito a tendência vai continuar com tudo.
Outra cor que reinou no evento foi o chamado "lime", basicamente um amarelo forte, quase fluorescente:

A Ellus foi uma marca que apostou em especial nesta cor, que apareceu nos jeans e no fundo de estampas.

Mais um ponto em comum nos desfiles foi o estilo cropped (encurtado). Celebridades de Hollywood já aderiram à moda que diminui o comprimento tanto de blusas quanto de calças. Isso não significa que as pantalonas e saias longas saíram de moda. Mas o fato é que o comprimento mais curto ganhou mais destaque nesta edição do SPFW. Aliás essa dicotomia longo-curto não pára por aí. É só ver qual é a próxima tendência.

Os maxi blazers vieram com tudo, podendo ser usados sozinhos, como fez a Maria bonita, ou por cima de conjuntos (blusa com calça, shorts ou saia). Acho difícil ver a primeira opção sair das passarelas para a vida real, já que o maxi paletó usado sozinho vira um micro vestido. Prefiro usá-lo com uma calça justa ou então com shorts e blusa.
As transparências também fizeram parte das criações para o próximo verão.
Por fim, as duas últimas tendências que gostaria de citar são a cor branca (especialmente em looks monocromáticos) e as listras, item sobre o qual já escrevi um post aqui no blog.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Maria Bonita no SPFW Verão 2012 e Cultura Portuguesa

A Maria Bonita  buscou inspiração na cultura portuguesa para desenvolver sua coleção primavera-verão 2012. Adorei as peças de linho com bordados inspirados na azulejaria, nos lenços, nos pratos e na tapeçaria portugueses. Os looks que mais gostei foram os que limitavam o bordado a um detalhe (como o cinto por exemplo) ou a uma parte da roupa.


Uma especial atenção aos lenços portugueses, moda que já está nas ruas há um bom tempo: 

Uma peça que gostei em especial foi o maxi blazer, na passarela usado como peça única,  mas que, fora dela, pode ser combinado com uma calça skinny ou com uma blusinha e um shorts ou saia.

Outro trabalho que achei muito interessante foi a reprodução dos desenhos da azulejaria nos tecidos cortados a laser, o que deu uma certa leveza às produções.

Hicoulture-se sobre o Artesanato de Portugal

Para o post não ficar muito grande, vou me concentrar em um item que ocupa lugar de destaque no artesanato português: o azulejo. Apesar da tentação de associar o “azul” à origem da palavra, principalmente pelo fato de muitos azulejos serem justamente em azul e branco, a origem do termo é árabe e nada tem a ver com a cor azul. Azzelij (ou al zuleycha, al zuléija, al zulaiju, al zulaco) significa, em árabe, pequena pedra polida e era a palavra usada para designar o mosaico bizantino do Próximo Oriente.
A utilização do azulejo pode ser observada desde a antigüidade, no período do Antigo Egito e na região da Mesopotâmia, alastrando-se por um amplo território com a expansão islâmica pelo norte de África e Europa (zona do Mediterrâneo), penetrando na Península Ibérica no século XIV por mãos mouras que levam consigo a origem do termo atual. O oriente islâmico impulsiona qualitativamente a produção de revestimentos parietais pelo contato com a porcelana chinesa que, pela rota da seda, surge em vários centros artísticos do próximo oriente. Durante a permanência islâmica na Península Ibérica a produção do azulejo cria bases próprias na Espanha através de artesãos muçulmanos e desenvolve-se a técnica mudéjar entre o século XII e meados do século XVI em oficinas de Málaga, Valência e Talavera de la Reina, sendo o maior centro o de Sevilha. Somente na virada do século XV para o século XVI o azulejo atinge Portugal, um país já com uma longa experiência em produção de cerâmica.
Inicialmente importado da Espanha o azulejo é, mais tarde, de manufatura própria, não só no território nacional, mas também em parte do antigo império (Brasil, África, Índia).
Com as suas respectivas variantes estéticas o azulejo é utilizado em outros países europeus como os Países Baixos, a Itália e mesmo a Inglaterra, mas em nenhum outro acaba por assumir a posição de destaque no universo artístico nacional, a abrangência de aplicação e a quantidade de produção atingidas em Portugal.
Deve-se dizer que a expressão assumida pela azulejaria barroca portuguesa ficou fortemente ligada a alguns pintores de azulejos que a marcaram, desde o início, com o seu estilo pessoal.
O primeiro e talvez o mais importante, foi Gabriel del Barco, nascido em Espanha e que veio aos 20 anos para Lisboa, onde morreu em 1703. Influenciado pela azulejaria holandesa, particularmente por Jan van Oort, de quem copiou alguns painéis, revelou na sua pintura pouca preocupação pelo rigor e perfeição do desenho para, através de um traço vigoroso e expontâneo, dar primazia aos efeitos cenográficos que iriam marcar a azulejaria portuguesa durante várias décadas.

Mas igual destaque merece António Oliveira Bernardes (1660-1730) e todos os seus discípulos entre os quais se conta o seu filho Policarpo de cujas oficinas saíram alguns dos mais brilhantes revestimentos de azulejo do barroco português.
"Fuga para o Egito" Policarpo Bernardes - 1730
Após o Terramoto de 1755, durante a reconstrução da cidade de Lisboa, o Marquês de Pombal incentivou a produção de azulejos, que constituíam material barato, higiênico e resistente. Foi nesta época que os azulejos começaram a ser utilizados para o cobrir as fachadas das casas.
Igreja da Madre de Deus - Lisboa
A partir de 1950, os artistas plásticos portugueses começaram a interessar-se pela utilização do azulejo. Para isso contribuiram Jorge Barradas, considerado o renovador da cerâmica portuguesa e Keil do Amaral que, nos contactos com os arquitectos brasileiros, redescobriu as potencialidades deste material de revestimento cerâmico. Embora sejam numerosos os artistas plásticos que ensaiaram experiências no campo da azulejaria, alguns deles conquistaram uma posição de destaque mercê da dimensão e da qualidade da obra produzida, como é o caso de Maria Keil, Manuel Cargaleiro, Querubim Lapa e Eduardo Nery.
Painel exterior do Tribunal de Ovar - Jorge Barradas - 1965
Maria Keil
Manuel Cargaleiro

A par desta azulejaria de características eruditas, o azulejo português continuou, nesta segunda metade do século XX, a manifestar-se através de exemplares menos elaborados ou de carácter popular, como os revestimentos das fachadas das casas dos emigrantes e os registos, cartelas e painéis naturalistas, desenhados pelos artífices que trabalham nas fábricas. Mas, através de todas estas formas, continuou a revelar a sua vitalidade e a reafirmar-se como uma das manifestações mais originais das artes decorativas europeias.

domingo, 19 de junho de 2011

Trilha de domingo!

Os benefícios da internet são tantos. Fato. Informação a qualquer momento, tudo que você precisa está na tela do computador. No entanto, pra mim, uma das melhores coisas que a internet provê é o acesso ilimitado a músicas boas, aquela rotulada ou não. Agradeço aos deuses da nova era por tanta música que eu dificilmente teria a oportunidade de ouvir e hoje ouço quando bem entendo.

Uma dessas bênçãos musicais virtuais que conheci há alguns anos atrás por indicação de um amigo, é o norueguês de 29 anos Sondre Lerch. Música inteligente e incrivelmente eclética. Quando ouvi pela primeira vez os discos Faces Down, de 2002 e Two Way Monologue (não sei de quando) e Duper Sessions de 2006, fiquei absolutamente impressionada com a versatilidade do então muito jovem instrumentista, cantor e compositor. As canções passeiam deliciosamente por um jazz muito bem tocado e elaborado, por arranjos pops cheios de violinos, metais, teclados, guitarras. Um rock com um “quê” de anos 60 que lembra músicas de grandes mestres como Paul McCartney, Brian Wilson, Nick Drake. É claro que suas músicas não chegam perto do legado dessas lendas, mas me parece que Sondre está na direção certa.

Separei aqui três músicas que gosto muito por motivos óbvios: Letras bonitas, melodias interessantes, refrões grudentos: a receita de sempre, mas com certa complexidade. Sondre Lerch vem recebendo críticas positivas e vale a pena ouvir o trabalho dele com carinho.

Track you Down do disco Two Way Monologue é uma canção bem pop, mas com um vocal lindo, música pra ouvir em casa cozinhando! É a típica balada bem feita.

http://www.youtube.com/watch?v=hjthcXvL60M

Everyone's Rooting for You é um jazz com ótimas linhas de improviso de piano, guitarra e baixo. Sondre manda a ver no falsete, o que eu acho bem charming.

http://www.youtube.com/watch?v=X-AGSkNgiCY&feature=related

Por fim, a última música que vou postar é Two Way Monologue, rock um pouco simplista, mas com um refrão hipnotizador, além do clipe ser bem legal.

http://www.youtube.com/watch?v=kG9ZhCcaS9I&feature=list_related&playnext=1&list=AVGxdCwVVULXfefngBczlgqp7eXeJjxtXS

sábado, 18 de junho de 2011

Priscilla Darolt e Josephine Baker no SPFW Verão 2012


Mais  uma estilista a se inspirar no Art Déco, Priscilla Darolt desfilou sua coleção primavera verão 2012 nesta quinta-feira no SPFW. Não é a primeira vez que a estilista faz uso de formas geométricas, desta vez temperadas pelos anos 20. O que achei interessante no desfile foi o trabalho artesanal em cada peça. É muito fácil, nesses casos, exagerar na dose do artesanal e obter um resultado mais de “feito em casa” e hippie do que elegante. Mas a grife conseguiu criar um visual pra lá de elegante mesmo abusando de transparências, franjas, macramês e rendas, acertando a mão na dosagem de sensualidade sem que precisasse apelar para decotes ou modelagens mais justas, que seriam mais óbvios.



Como já escrevi aqui sobre o Art Déco, vamos falar um pouco sobre outra influência que inspirou Priscilla Darolt: o visual de Josephine Baker e os anos 20.

Hicoulture-se sobre Josephine Baker

Josephine Baker, nome artístico de Freda Josephine McDonald, (1906-1975) foi uma célebre cantora e dançarina norte-americana, naturalizada francesa em 1937, e conhecida pelos apelidos de Vênus Negra, Pérola Negra e ainda a Deusa Crioula.

De origem humilde, trabalhou como lavadeira e arrumadeira durante anos até conseguir uma chance como dançarina. Obteve real visibilidade quando estreou em Paris no Théâtre des Champs-Élysées. Virou celebridade na França, chegando a ser conhecida como “a mulher mais famosa do  mundo”.  Chamou a atenção por sua dança erótica, esbanjando sensualidade. Dançava de uma maneira única: selvagem, trapalhona e sexy. Deixou todos perplexos com seus números inusitados.

Podemos ver claramente a influência do visual dos anos 20 nos looks de Priscilla. É claro que a cantora Josephine Baker foi somente uma fonte de inspiração, afinal uma referência ao pé da letra implicaria o uso mínimo de roupas, o que não faria muito sentido em um desfile de moda. Podemos notar que a estilista se utilizou de algumas referências da década. Uma delas foi o uso de transparências, uma maneira de dosar a inspiração em favor da moda, mais precisamente de uma moda criativa, elegante e contemporânea. Também reinaram na passarela o os vestidos acima do tornozelo, de modelagem tubular. Leves e elegantes, na década de 20 vestiam uma mulher que era valorizada pela falta de curvas. As mulheres desta época estavam finalmente livres do espartilho, encarnando formas opostas às proporcionadas por esta peça. Agora livres para se movimentar, as mulheres mostravam sua sensualidade de outra maneira. Nada de marcar o corpo, a moda agora eram cortes retos, deixando a sensualidade por conta nos tornozelos de fora e das meias cor da pele, que davam a impressão de pele nua.

Voltando à Josephine Baker, na década de 20 a artista apresentou-se com Grande Otelo no Teatro cassino, no Rio de Janeiro, chegando até a cantar em português. Anos mais tarde voltou ao Brasil, fazendo apresentações no Teatro Record, em São Paulo, em Belo Horizonte, em Porto Alegre e no Copacabana Palace.

A cantora consagrada ainda se destacou durante a resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial, fazendo apresentações para os soldados e trabalhando até como espiã para o governo Francês.

Também se destacou na luta contra o racismo e adotou crianças de diversas nacionalidades (colombiana, coreana, japonesa, canadense, finlandês, argelina, venezuelana), aos quais chamava “tribo arco-íris”.