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quarta-feira, 6 de julho de 2011

ABCoulture: o algodão



“Ali encontramos grandes árvores em estado selvagem cuja fruta é uma lã melhor e mais bonita que a de carneiro. Os indianos utilizam essa lã de árvore para se vestir.”
Heródoto, 445 a.C., referindo-se pela primeira vez ao algodão.

Em 1801, a indústria do vestuário consumia na Europa 78% de lã, 18% de linho e 4% de algodão. Um século mais tarde, as proporções eram de 20%, 6% e 74% respectivamente. Como o algodão virou esse jogo?

O algodão, juntamente com o linho,  é uma fibra natural vegetal cultivada pelo homem desde a Idade do Bronze. Ainda que de lá para cá tenham surgidos outras fibras, entre elas as sintéticas, o algodão é a preferida de muitos por conta de seu conforto, maciez e durabilidade.
Por outro lado, existe uma discussão enorme sobre os danos causados ao meio ambiente pelo seu cultivo. Além da imensa área ocupado para seu plantio. É muito improvável neutralizar todos os danos causados pelo processo industrial, mas hoje tenta-se minimizá-los através do uso de menos inseticidas (muito usados na produção desta fibra em especial) e do cultivo de algodão naturalmente tingido. Alem disso existem iniciativas como o “sistema de algodão adensado”, no Mato Grosso, uma das principais regiões de cultivo da fibra no Brasil. O conceito de “algodão adensado” consiste em diminuir o espaçamento entre as linhas plantadas, aumentando a população de plantas nas fileiras. O sistema pode baixar os custos de 30% a 40% pois reduzem-se os gastos com adubação, maquinário, combustível e mão-de-obra, uma vez que o ciclo da cultura passa a ser de 150 dias, frente aos 210 dias no campo do sistema convencional.

Outras iniciativas que merecem destaque no Brasil são as promovidas pela Embrapa quanto ao melhoramento genético do algodoeiro. Na década de 80, o Centro passou a investir mais no desenvolvimento de variedades anuais de ciclo precoce como estratégia para a convivência com o bicudo-do-algodoeiro, espécie  de besouro proveniente da América Central e responsável por prejuízos gigantescos nas plantações de algodão no nordeste brasileiro no início da década de 80. Na década de 90, a Embrapa Algodão passou a promover pesquisas para o desenvolvimento de cultivares de algodoeiro adaptáveis às condições do Cerrado brasileiro. A obtenção e distribuição da CNPA ITA 90 a partir de 1992 foi o marco para a consolidação da cotonicultura na região. E desde 1997, a Unidade tem lançado de uma a três cultivares por ano para o Cerrado, que tem aproximadamente metade de sua área de algodão plantada com variedades da Embrapa. Para o Nordeste, já foram desenvolvidas 11 cultivares de algodão branco. O sistema também proporciona o plantio de duas safras, pois o algodão é cultivado na sucessão da colheita da soja. 
Algodão naturalmente colorido
A empresa tem apostado agora no algodão colorido como produto diferenciado para a região. Pioneira no desenvolvimento do algodão colorido no país, a Embrapa lançou a primeira cultivar, BRS 200 Marrom, em 2000. A BRS Verde foi colocada no mercado em 2003 e BRS Safira e BRS Rubi, em 2005. Todas foram obtidas por meio de métodos de melhoramento genético convencionais e sua pluma tem tido crescente demanda no mercado. Além de adaptadas às fiações modernas, as cultivares de algodão colorido da Embrapa reduzem os custos de produção para a indústria têxtil e o lançamento de efluentes químicos e tóxicos, por dispensarem o uso de corantes.

 Outra importante tecnologia para a agricultura familiar é a mini-usina de beneficiamento de algodão, que descaroça e enfarda a pluma agregando valor à mercadoria do pequeno produtor. A máquina custa R$ 100 mil, mas o gasto será dividido por toda a comunidade de pequenos agricultores. Mesmo com este custo, o produtor tem o dobro de rentabilidade em relação ao processo tradicional, que é a venda do algodão em forma bruta.
Mini usina de beneficiamento de algodão
 Voltando um pouco no tempo, vamos entender melhor como o algodão se tornou a fibra têxtil mais importante do mundo. Como falei no início do post, o algodão já era usado na Idade do Bronze. Mas porque ganhou notoriedade somente a partir do século XIX? Isso aconteceu porque, apesar da sua produção ser menos complexa que a da seda e do cânhamo, a colheita das fibras de algodão requeria muita mão-de-obra (embora seu custo fosse mínimo) e o descaroçamento era todo manual. Só depois da invenção do descaroçador, pelo americano Eli Whitney, os custos de produção diminuíram e a fibra se popularizou.  

Mais duas invenções iriam mudar o curso da história da fibra: a máquina de fiar, do inglês Arkwright, e o tear mecânico, do também inglês Cartwright (veja abaixo a pintura "Tecelão", de Vincent Van Gogh).

Máquina de Fiar

Tear Mecânico na tela de Vincent Van Gogh "Tecelão"
A partir desses acontecimentos o algodão passa a ocupar posição de destaque no desenvolvimento industrial de diversos países europeus. E não era só por seus motivos exóticos e cores brilhantes. Habituados com os pesados tecidos de lã e ao linho de cor única, os europeus, e mais tarde os países da América,  ficaram encantados com os “indianos” leves e suas cores resistentes ao ar, a luz e as lavagens repetidas. Esse foi o percurso do algodão até adquirir o status que tem hoje: descoberto na Índia e trazido para o ocidente pelas mãos de mercadores árabes, que rapidamente espalharam o produto para a África e, logo depois, para a Europa e América (onde já era cultivado pelos incas, maias e astecas). No início era visto como produto exótico, chegando até a ganhar status igual ao da seda. Mas rapidamente os tecidos da Índia passaram a ser muito requisitados, o que motivava o crescimento da importação e incentivava as indústrias a tentarem copiar os desejados têxteis.

Hoje a China e a Índia são os maiores produtores mundiais de algodão. A China, apesar de produzir toneladas da fibra, ainda necessita importar o produto bruto para suprir suas necessidades. O Egito também é grande produtor da fibra. Aliás, o algodão egípcio é considerado o de melhor qualidade no mundo, por suas fibras longas e extralongas, macias, mas resistentes.
Outra variedade que merece destaque é o algodão sea island, um derivado do algodão egípcio e cultivado nas ilhas do sudeste dos Estados Unidos (cem pequeninas ilhas da costa Atlântica da Carolina do Sul, Geórgia e norte da Flórida) e sob irrigação no sudoeste norte-americano.
As fibras deste tipo de algodão são mais longas que qualquer outro tipo e representam apenas 0/0004% da produção mundial. Dizem que a rainha Vitória só usava lenços de algodão sea island, e que Eduardo VIII também só vestia algodão deste tipo. Atualmente poucas marcas utilizam-se desta matéria-prima, sendo uma delas a Fogal, que a utiliza em sua coleção de camisetas e underwear semelhantes ao toque de cashmere.
A maior parte da colheita mundial de algodão é do tipo "upland", algodão nativo descoberto por colonizadores ingleses na região leste da América do Norte. De fibras mais curtas que as do algodão egípcio, a grande quantidade de sementes e sua forte aderência às fibras dificultaram sua propagação imediata, mas, vencida a dificuldade do descaroçamento, o algodão upland tornou-se o mais difundido no mundo. 

Resumindo,  a fibra de algodão se tornou a mais importante das utilizadas nas indústrias de tecidos por diversas razões: tem baixo custo, não requer preparação mecânica nem tratamento químico custoso, é lavável e mais resistente que a lã. Além disso, de seu caroço é extraído óleo comestível, e a moagem de seus resíduos resulta em farelo usado na alimentação do gado e como fertilizante. 

Curiosidade

As flores do algodão têm vida curtíssima - cerca de 12 horas apenas; os elementos que as compoêm, celulose, água e gordura, é que vão constituir a fibra do algodão. Do ovário da flor surge o fruto em formato de cápsula; Quando a cápsula atinge sua maturidade, cerca de 48 dias após o surgimento, ela se abre mostrando os flocos de algodão que envolvem as sementes. A colheita deve ser imediata. 


Um comentário:

  1. Augusta, parabéns pelo post e pelo blog. Muito bem escrito e argumentado.
    beijo,
    Pri

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