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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Maria Bonita no SPFW Verão 2012 e Cultura Portuguesa

A Maria Bonita  buscou inspiração na cultura portuguesa para desenvolver sua coleção primavera-verão 2012. Adorei as peças de linho com bordados inspirados na azulejaria, nos lenços, nos pratos e na tapeçaria portugueses. Os looks que mais gostei foram os que limitavam o bordado a um detalhe (como o cinto por exemplo) ou a uma parte da roupa.


Uma especial atenção aos lenços portugueses, moda que já está nas ruas há um bom tempo: 

Uma peça que gostei em especial foi o maxi blazer, na passarela usado como peça única,  mas que, fora dela, pode ser combinado com uma calça skinny ou com uma blusinha e um shorts ou saia.

Outro trabalho que achei muito interessante foi a reprodução dos desenhos da azulejaria nos tecidos cortados a laser, o que deu uma certa leveza às produções.

Hicoulture-se sobre o Artesanato de Portugal

Para o post não ficar muito grande, vou me concentrar em um item que ocupa lugar de destaque no artesanato português: o azulejo. Apesar da tentação de associar o “azul” à origem da palavra, principalmente pelo fato de muitos azulejos serem justamente em azul e branco, a origem do termo é árabe e nada tem a ver com a cor azul. Azzelij (ou al zuleycha, al zuléija, al zulaiju, al zulaco) significa, em árabe, pequena pedra polida e era a palavra usada para designar o mosaico bizantino do Próximo Oriente.
A utilização do azulejo pode ser observada desde a antigüidade, no período do Antigo Egito e na região da Mesopotâmia, alastrando-se por um amplo território com a expansão islâmica pelo norte de África e Europa (zona do Mediterrâneo), penetrando na Península Ibérica no século XIV por mãos mouras que levam consigo a origem do termo atual. O oriente islâmico impulsiona qualitativamente a produção de revestimentos parietais pelo contato com a porcelana chinesa que, pela rota da seda, surge em vários centros artísticos do próximo oriente. Durante a permanência islâmica na Península Ibérica a produção do azulejo cria bases próprias na Espanha através de artesãos muçulmanos e desenvolve-se a técnica mudéjar entre o século XII e meados do século XVI em oficinas de Málaga, Valência e Talavera de la Reina, sendo o maior centro o de Sevilha. Somente na virada do século XV para o século XVI o azulejo atinge Portugal, um país já com uma longa experiência em produção de cerâmica.
Inicialmente importado da Espanha o azulejo é, mais tarde, de manufatura própria, não só no território nacional, mas também em parte do antigo império (Brasil, África, Índia).
Com as suas respectivas variantes estéticas o azulejo é utilizado em outros países europeus como os Países Baixos, a Itália e mesmo a Inglaterra, mas em nenhum outro acaba por assumir a posição de destaque no universo artístico nacional, a abrangência de aplicação e a quantidade de produção atingidas em Portugal.
Deve-se dizer que a expressão assumida pela azulejaria barroca portuguesa ficou fortemente ligada a alguns pintores de azulejos que a marcaram, desde o início, com o seu estilo pessoal.
O primeiro e talvez o mais importante, foi Gabriel del Barco, nascido em Espanha e que veio aos 20 anos para Lisboa, onde morreu em 1703. Influenciado pela azulejaria holandesa, particularmente por Jan van Oort, de quem copiou alguns painéis, revelou na sua pintura pouca preocupação pelo rigor e perfeição do desenho para, através de um traço vigoroso e expontâneo, dar primazia aos efeitos cenográficos que iriam marcar a azulejaria portuguesa durante várias décadas.

Mas igual destaque merece António Oliveira Bernardes (1660-1730) e todos os seus discípulos entre os quais se conta o seu filho Policarpo de cujas oficinas saíram alguns dos mais brilhantes revestimentos de azulejo do barroco português.
"Fuga para o Egito" Policarpo Bernardes - 1730
Após o Terramoto de 1755, durante a reconstrução da cidade de Lisboa, o Marquês de Pombal incentivou a produção de azulejos, que constituíam material barato, higiênico e resistente. Foi nesta época que os azulejos começaram a ser utilizados para o cobrir as fachadas das casas.
Igreja da Madre de Deus - Lisboa
A partir de 1950, os artistas plásticos portugueses começaram a interessar-se pela utilização do azulejo. Para isso contribuiram Jorge Barradas, considerado o renovador da cerâmica portuguesa e Keil do Amaral que, nos contactos com os arquitectos brasileiros, redescobriu as potencialidades deste material de revestimento cerâmico. Embora sejam numerosos os artistas plásticos que ensaiaram experiências no campo da azulejaria, alguns deles conquistaram uma posição de destaque mercê da dimensão e da qualidade da obra produzida, como é o caso de Maria Keil, Manuel Cargaleiro, Querubim Lapa e Eduardo Nery.
Painel exterior do Tribunal de Ovar - Jorge Barradas - 1965
Maria Keil
Manuel Cargaleiro

A par desta azulejaria de características eruditas, o azulejo português continuou, nesta segunda metade do século XX, a manifestar-se através de exemplares menos elaborados ou de carácter popular, como os revestimentos das fachadas das casas dos emigrantes e os registos, cartelas e painéis naturalistas, desenhados pelos artífices que trabalham nas fábricas. Mas, através de todas estas formas, continuou a revelar a sua vitalidade e a reafirmar-se como uma das manifestações mais originais das artes decorativas europeias.

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